A nível global, foi a semana do apagão da ferramentaria do Zuckerberg. Por cá, foi a semana da celabração da Implantação da República para uns, da criação do Reino de Portugal para outros e de ressuscitar o Cavaco para outros ainda.
É curioso que o Cavaco ressuscita sempre no jornal Expresso do antigo chefe de redacção da revista Mais Alto, o Alferes Balsemão. Pouco deve ter mudado naquela cabeça que adorava escrever sobre ataques aéreos [pt] a aldeias angolanas.
Nunca será o Expresso, nem a SIC a fazer reportagens sérias sobre a Guerra Colonial. Um tema pouco importante para os meios de comunicação portugueses. Daí que me surpreenda sempre que aparece alguma reportagem bem feita sobre o tema, sobretudo com a qualidade da que surgiu esta semana na Divergente [pt] sobre africanos que fizeram parte dos Comandos portugueses. Um daqueles exemplos que se devem mostrar obrigatoriamente nos cursos de jornalismo.
É curioso que o Prémio Nobel da Paz [en] deste ano tenha sido atribuído a dois jornalistas responsáveis por meios de comunicação independentes e não a grande figuras. É um sinal de que algo pode mudar ou é apenas algo efémero e vai já voltar tudo a correr para o Facebook e derivados, ignorando as denúncias feitas ao longo da semana, esquecendo o apagão e sobretudo as questões éticas levantadas pelo grande artigo da The New York Times Magazine [en].
Das redes sociais aos telefones espertos, são cada vez mais as ferramentas de adormecimento nesta “sociedade do cansaço”. Não há mal nenhum em passar um dia ou dois ver a tão falada série da Netflix Squid Game, se se perder tanto tempo a ver como a interpretar ou a ler interpretações como esta na publicação argentina Página 12 [es], mas é importante que se leia também, por exemplo, a entrevista com o filósofo Byung-Chul Han, também ele sul-coreano, no El País [es].
A grande questão é: interessa assim tanto acabar com as redes sociais, os telefones espertos e outras formas de adormecimento ou deveríamos colocar todos os nossos esforços a tentar acabar com coisas concretas e provadas como a pedofilia na igreja católica, a própria igreja católica, a padralhada, os ricos que não pagam impostos, que não pagam nada e ainda escondem dinheiro? Parece que é tudo entretenimento neste Galáxia Zuckerberg.