Esta gente sem consciência de classe que agora sai às ruas e se queixa que está tudo caro, é a mesma gente que se ria das nossas sapatilhas Lagarto (se não sabem o que é vão a Matosinhos ver a exposição Sapatilhas). A mesma gente que pensa que o Expresso é um jornal de referência e que não sabe que o Público sempre foi um meio de propaganda do grupo comercial do Belmiro de Azevedo para se tentar tornar naquilo que nunca foi e que o filho também nunca chegará a ser. Novos ricos que nunca chegarão a velhos, porque do lado de lá da fronteira ninguém os conhece e a sua fortuna não vale um tostão.
Para além da consciência de classe que não têm, falta-lhes sobretudo consciência crítica para não se deixarem enganar por aquilo que lhes impingem como certo. E isto tanto se aplica a quem segue as normativas definidas por um Papa ou um Buda, como quem segue os ditames da direcção de um partido, de um organizador de desfile, de um líder sindical oportunista ou de um director de jornal que não vê para além do seu umbigo.
Falta também muita consciência crítica e também de classe, tendo em conta os ordenados miseráveis que recebem, aos jornalistas que trabalham nos jornais desses directores e desses donos de jornais. A Novara Media [en] tem um bom artigo sobre este assunto, sobretudo sobre a falta de jornalistas que deixem os trabalhadores falar e não só os patrões e isto podia estender-se a outras coisas. Porque é que só deixam falar o médico e não o doente? Porque é que só deixam falar o Capitão e não o Soldado?
Não é muito difícil dar voz a quem precisa de falar. Nem sequer precisam de os pôr em discurso directo, basta que contem a história a partir de um outro ângulo para equilibrar as coisas, como faz a The Nation [en] neste artigo sobre rendas altas e senhorios gananciosos, algo muito semelhante ao que se passa cá. Muda a perspectiva de quem conta a história e também de quem a lê.
É engraçado ter que olhar para a América como um exemplo de como as coisas deveriam ser feitas aqui na nossa terra. Nessa outra terra em que pareciam olhar todos para o mesmo lado e ter todos a mesma perspectiva, as coisas mudaram e a própria luta que os trabalhadores fazem dentro das grandes empresas é diferente do que ainda se faz cá. Os sindicatos europeus têm muito a aprender com os norte-americanos. Este artigo da Bloomberg [en] é só um pequeno exemplo do que se faz por lá e das tácticas que os sindicatos usam.
Por cá, continuam a ir às compras às grandes mercearias que os enganam e exploram os seus semelhantes, a ler os mesmos jornais, a ver as mesmas televisões e a votar nos mesmos partidos que votam os patrões. Gente com estudos a mais e vida a menos para saber o que significam as palavras mais importantes na vida de um trabalhador: boicote e sabotagem.