Cidália Porca

Por esta é que vocês não esperavam. Julgavam-na morta, mas não. Não são discos pedidos e a emissão é variável, tal como a da Rádio Festival que às vezes está nos 94.8, outras está em lado nenhum. Bem diferente da da TSF que qualquer dia passa a estar onde muitas outras estão, na memória. E sobre isso, escutem ou leiam o último Sinais [pt] do Fernando Alves, de hoje mesmo.

No meu caso, o termo certo não seria vagabundo, mas sim vadio, porque a vadiagem é aquilo que realmente distingue o Homem de tudo o resto. Não importa se os filósofos lhe chamam “contemplação do mundo” ou se lhe chamam “passear na rua” como na cantiga popular. O que importa é que se saiba que a loja está aberta quando abre e está fechada depois de fechar. Os horários e as periodicidades fazem cada vez menos sentido nesta era da pressa.

Se estão aqui é de livre e espontânea vontade e a porta da rua é, como sempre foi, a serventia da casa. Sabem perfeitamente que aqui podem ficar de peito cheio se me apetecer soltar um elogio, como podem estar a apanhar no focinho no minuto seguinte.

Não fui às aulas onde se ensinava o bom comportamento, porque estava lá fora a chamar gordo ao gordo, a roubar o bolo ao filhinho da mamã que hoje tem um cargo importante na Assembleia Municipal e a ouvir a k7 dos Green Day com a mesma música repetida nos dois lados (que a gravou foi não sei quantos filho do gajo da farmácia).

Quanto se repete a mesma coisa muitas vezes é isso que nos fica e que nos molda a personalidade. Não é preciso estudar psicologia, é o tal “saber de experiência feito” do Velho do Restelo.

Escrevo quando me apetece e apareço quando tenho de aparecer.

Podia não escrever por solidariedade com os escritores de Hollywood em greve que, coincidentemente, terminaram a greve esta semana. Ganharam, claro que ganharam, como ganha sempre qualquer grevista que leve a luta a sério. Aquilo que ganharam está bem explicado na Vox [en]. Faria a mesma greve, se me pagassem o mesmo que lhes pagam para escrever aquelas mixórdias.

As palavras são o que de mais importante temos, mas às vezes esquecemo-nos e trocamo-las por imagens, pinturas e gatafunhos coloridos. O que vale é que há-de aparecer sempre alguém para nos mostrar a força que elas têm, se usadas da forma certa.

Cidália Porca. Cidália Porca. Cidália Porca. Cidália Porca.

Não importa quem é a Cidália, nem que tipo de porca é. O que importa é que na minha cabeça, a Cidália Porca é o presidente da câmara que quer a cidade mais limpa que as mãos de um obsessivo-compulsivo que não consegue parar de as lavar; é o dono do jornal que não admite que falem mal dele nem dos seus amigos e compadres; é o presidente da república que quer a mamas tapadas, mas não consegue tapar a boca; são os tapados todos que não percebem que a miséria tem o mesmo valor que a riqueza.

Também não vale a pena lamentarem o fim do Jornalismo, porque já se finou há muito. O Carvalho e os outros todos eram só mais um número no meio do grande simulacro, os razoáveis entre os medíocres. Daqui a uns tempos já ninguém sabe quem são. Metem-se aí a conduzir riquexós e a inventar histórias. São todos colegas. Nunca foram camaradas. Vão acabar na rua, que é de onde nunca deveriam ter saído. Não me importa se vão acabar na prostituição ou a vender droga como um que descobri numa história da Rolling Stone [en].

Os muros, esses, vão continuar lá para quem tiver algo a dizer, quando tiver vontade. Seja a “Cidália Porca” repetida incessantemente, o “nem doutor nem engenheiro, apenas paneleiro” ou o “à portuguesa só conhecemos o cozido”. É isso que nos fica na cabeça para toda a vida. Não importa quem é o autor, nem se é arte ou não é arte.

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