Na guerra não há apenas dois lados e, muitas vezes, há vozes divergentes dentro de cada um deles. São esses os verdadeiros corajosos. Os que pensam pela própria cabeça e que não se escondem na hipocrisia, atacando aqueles que até então idolatravam ou serviam.
Tenho conseguido manter a televisão apagada e uma distância higiénica da fossa em que se tornaram as redes sociais. Tenho lido muito mais artigos de publicações que visito com pouca frequência para ter uma visão mais ampla do mundo. Uma delas é a JewishCurrents [en], uma publicação de Judeus e de esquerda, que dedica um longo artigo a Roman Abramovich a quem ironicamente chamam “o nosso oligarca”. Gostava de ler um artigo destes ou uma tradução num jornal ou revista português, visto que, recentemente, o multimilionário russo se naturalizou português ao abrigo da Lei da Nacionalidade como judeu sefardita. De certo modo, é também o nosso oligarca.
As condenações por todo o mal que acontece tendem a centrar-se apenas num homem, desculpabilizando-se tudo o que o rodeia, pensando que assim se acaba de vez com o mal. O grande problema é que, às vezes, se condena o homem errado e o mal continua. A San Francisco Chronicle [en] conta a história do homem que tentaram responsabilizar pelo terrorismo na América no pós 11 de Setembro e que foi erradamente condenado.
É também sobre vários homens sós que a Político [en] escreve. Democratas praticamente sozinhos e abandonados pelo seu partido na América rural. Mas se aquela é a terra deles, que sentido faz saírem de lá só porque pensam de forma diferente da maioria que os rodeia? O melhor para a terra onde vivem e que sentem como sua, é tudo o que querem.
Sem grande esforço, encontram-se tópicos semelhanças em várias histórias de diferentes latitudes como esta da National Geographic [en] sobre homens e mulheres que lutam pela sua terra, muitas vezes contra compatriotas seus, pagando com a própria vida.
Será que não há histórias destas na Ucrânia e na Rússia? No meio de um dispositivo tão grande de jornalistas, não há um único que procure uma história que vá para além das banalidades que debitam sem cessar? É triste, porque apesar das desgraças, a guerra está cheia de histórias que ficam por contar. Mostrar imagens em loop de grupos de crianças a chorar e o desespero das mulheres que fogem de uma terra destruída, é preguiça e não leva a nada. Sei que há muitos jornalistas e amigos de jornalistas que lêem a Polémica, façam-lhes um favor e enviem-lhes esta história da The Atavist [en], pode ser que se inspirem.
E não se esqueçam que a Rússia de hoje não é a União Soviética, embora ainda haja muitos soviéticos, tanto na Rússia como na Ucrânia. Não são esses que fazem a guerra, nem tão pouco os militantes do Partido Comunista Português que faz hoje 101 anos e merece respeito, sobretudo de quem tem responsabilidades e permite que os insultem dentro da própria casa ou frequenta, alegremente, a casa de quem vive para os insultar. O punho ergue-se sempre do mesmo modo e a terra que se canta com ele erguido não tem amos, nem senhores, nem patrões.