Deixa Arder

Chamam a isto a época dos incêndios, o que dá para entender que é uma coisa instituída e que não há grande interesse em acabar com ela. Os incêndios são uma actividade económica como outra qualquer em Portugal, que terá começado algures no final do século XIX com a introdução do eucalipto em Portugal.

O eucalipto é muito importante, porque como se sabe, Portugal é um dos países onde se gasta mais papel. Não creio é que seja em livros ou jornais, mas para finalizar aquela outra actividade que se faz sentada num bacio, que também pode ser matutina ou vespertina como os jornais. Eu continuo a gostar de jornais, apesar do ódio que lhes tenho (não ao formato, nem ao objecto, mas ao conteúdo), uma das coisas que mais gosto em jornais e revistas é a ilustração. O El Diário [es] publica uma excelente entrevista com Sergio García, um ilustrador que trabalha para o The New Yorker e The New York Times.

Nunca fui à América, mas gosto de ver muitas coisas que de lá me chegam. Falo quase todas as semanas com Norte Americanos, sobretudo de zonas menos in como o Oregon, Georgia, Alabama, Arkansas, todos grandes produtores e exportadores de madeira. É de lá que vem toda a madeira que usamos aqui na fábrica. São florestas sustentáveis com o único propósito de produzir madeira para mobiliário, casas e afins. É tudo gerido como deve ser, não se plantam árvores à sorte, como cá, ao lado de casas e currais.

É claro que também há lá fogos difíceis de controlar e bem maiores que os de cá, mas há um discussão pública e uma preocupação séria com a floresta, como se lê na Outside [en].

Por cá, sem uma gestão florestal adequada, com a extinção do Corpo Nacional da Guarda Florestal e a não existência de bombeiros profissionais suficientes para cobrir o território nacional, a política é: deixa arder. Apesar da boa vontade, um mangueiro voluntário, não é um bombeiro profissional.

Se temos e queremos uma floresta em condições, se calhar seria bom olhar para os bons exemplos, porque nem tudo o que vem da América é mau. Até os rednecks do Texas tratam melhor a floresta do que os pacóvios de Figueiró dos Vinhos e essas outras terras que passam a vida a arder por falta de planeamento. A The National Geographic [en] tem uma excelente reportagem sobre o Texas, por acaso.

Foi precisamente numa publicação texana, a The Texas Monthly [en] que encontrei alguns conselhos para ultrapassar esta onda de calor que por cá anda. Por acaso, não são muito diferentes dos conselhos que a minha avó, mais do que habituada ao calor de Ferreira do Alentejo, me dava. Deserto é deserto, não é?

A América, na verdade, é muito mais do que os Estados Unidos da América. Também no Canadá têm havido grandes incêndios. Num artigo da Maclean’s [en] perecebe-se que mesmo um dos melhores corpos de bombeiros do mundo nem sempre é suficiente e, conscientes disso, as autoridades apressam-se a implementar medidas, nada baratas e nem sempre populares, como afastar as populações das zonas de maior risco, incluir instruções de combate a incêndios nos programas da escola básica, etc.

Tal como os incêndios, quase todos os problemas são globais, apesar do nosso “jornalismo” achar que só cá é que há incêndios, gasóleo caro e aumento generalizado dos preços. É preciso esticar o braço para além da fronteira e apanhar o El País [en] para perceber a forma como a inflação está a afectar todo o continente americano, do norte ao sul.

Fecho por aqui para que possam voltar aos vossos programas televisivos com directos patéticos intermináveis a que chamam telejornais.

Digite acima o seu termo de pesquisa e prima Enter para pesquisar. Prima ESC para cancelar.

Voltar ao topo