Não é novidade nenhuma que a padralhada gosta de mexer na pila dos meninos nas maminhas das meninas e, se puder, em algo mais. Também não é novidade nenhuma que quem anda metido nas igrejas a feder a água benta compactua com isso. Se sabem que isso acontece, que não só apenas devaneios literários, conspirações ou suspeitas, se há provas e continua lá metido, tem também culpa. Se ocupa um cargo de poder e tenta desculpabilizar esta gentalha, é ainda mais grave.
Uma República católica com um presidente católico, em que grande parte da população continua a visitar igrejas e a fazer peregrinações a santuários, nunca vai acabar com isto. Muito menos, se no interior dos movimentos sociais e nos partidos revolucionários, também há quem frequente igrejas.
Igrejas e barcos de pau cheios de esfomeados. Resume-se a isso a História de Portugal.
A queda da igreja católica era algo que me deixaria muito feliz e um grande passo no progresso da Humanidade. Se não houvessem igrejas, o desgraçado americano que caiu do telhado de uma, que partiu 108 ossos e anda está a tentar voltar a andar estaria bem melhor. A história está na Esquire [en].
Sobre os barcos, quando a terra nos chateia, o melhor mesmo é sair e meter-se no mar, rumo ao desconhecido. Foi isso que fizeram muitos portugueses, há uns séculos. Infelizmente, levaram a merda da igreja às costas e espalharam-na pelo mundo.
Nos dias de hoje, há quem continue a fugir da terra, por esses mares fora, mas sem negociatas com padres, como este francês da história da Raporterre [fr] que decidiu dar uma volta ao mundo num barquito de pau de 4 metros. É curioso que não é o único. Pouco depois de ter lido esta história, descobri outra na Atavist [en] de uma inglesa que fez algo semelhante. O artigo é bem mais extenso e mostra que é possível viver fora de uma sociedade decadente, segundo as próprias regras. O mal é que acabam sempre por voltar e nunca se livram do incómodo que as atormenta.
Mesmo os que saem por terra, que constroem uma nova vida numa terra longínqua, sentem vontade de voltar, mais tarde ou mais cedo, sobretudo quando há sinais de mudança para algo que eles sempre esperaram, como este exemplo da The Cut [en]. O mal é que quando se sai, se mudam hábitos e se percebe que nos outros sítios tudo é diferente, sobretudo as mentalidades, é muito difícil voltar e conseguir viver com esse incómodo de sentir que se é um estranho na própria terra. Pior é quem já nasce com isso, sem nunca ter saído de cá.