Meias sujas, meias finais, meias para baixo. A temática continua a ser a bola, mas não é essa a essência da coisa. A derrota do favorito Brasil nos penáltis que importa não é esta, mas a de 1986. Não pela derrota em si, mas pelo relato do comunista João Saldanha e a sua acérrima crítica ao Marxista Sócrates, depois do falhanço, a mancar, com as meias para baixo. “Vai tomar banho. Palhaço”. Há muitos Marxistas e até Comunistas, com as meias para baixo, que deviam ir tomar banho. Muito banhos.
Meias para baixo, meias para cima, sapatas coloridas, calções largos, a roupa da bola é muito estrambólica, como já disse na edição anterior, ainda assim há muita gente que compra esta roupa e anda com ela na rua toda feliz, mas será que sabem onde e quem fez estas camisolitas? A edição espanhola do The New York Times [es] conta tudo, ou pelo menos aquilo que sabe.
Até agora, o momento mais alegre deste Mundial de Futebol foi mesmo a vitória da selecção de futebol de Marrocos contra a equipa de futebol da Federação Portuguesa de Futebol. São coisas diferentes e as alegrias para uns e para outros são também diferentes. Estou pelos mais fracos, sempre.
Portugal não é uma equipa de futebol, nem uma bandeira, nem um hino e muito menos um neca que habita em Belém. Portugal não é Europa, tem muito mais de árabe do que de outra coisa qualquer, da linguagem à forma de estar. É óbvio que isso chateia aqueles que querem ser europeus e que imitam os tiques e os maneirismos dos europeus, mas nunca o serão. Serão sempre ibéricos. Sobre isso, María Sánchez escreve melhor que ninguém no La Vanguardia [es] sobre o filme “O Movimento das Coisas” de Manuela Serra.
Para além de Portugal, há outros países não europeus em território europeu. A Jugoslávia, mesmo sendo ex, também não é europeia. Como não sei falar pelos outros, prefiro partilhar escritos de quem o sabe, como é o caso do texto publicado no The Baffler [en], uma tradução de um original de Miljenko Jergović.
Nos próximos dias ainda continuaremos a ver jornalistas portugueses a tentar falar de futebol, mas tudo muito pela rama, a partir de pontos de vista que não interessam a ninguém. O futebol em particular e o desporto em geral, até costumavam ser uma boa escola de jornalismo em Portugal, mas perdeu-se tudo. Não é por se escrever sobre bola que as histórias têm menos valor. É o conteúdo, o ângulo, o lado humano que faz de uma boa história, uma história universal entendida por todos, mesmo aqueles que não gostam de desporto ou de um desporto em específico.
Um bom exemplo disso, é esta história publicada na ESPN [en] sobre um antigo jogador de futebol americano. Se querem escrever sobre o jogador Ronaldo até lhe esgotarem o nome, então escrevam uma história, só uma que esgote tudo. Ou então, façam melhor, vão até Oliveira de Azeméis e procurem o Kazuyoshi Miura, um dos melhores jogadores de futebol japoneses de sempre que, aos 55 anos, se prepara para assinar pela União Desportiva Oliveirense.
Um jornalista que não sabe o que perguntar e não sabe escrever, é o mesmo que um guarda-redes que fecha os olhos quando os devia ter bem abertos. Não o é, apesar de ter um cartão que diz que é, ocupar a posição, receber o ordenado ou se vestir como um.