O Mau da Fita

Como já aqui escrevi várias vezes, o panorama mediático em Portugal é medíocre e é essa uma das grandes causas da decadência da nossa democracia. O maior problema não são os jornalistas, mas também o são por abdicarem da sua independência e não serem claros, mascarando a realidade com a desculpa da objectividade e imparcialidade. Em Portugal, a falta de independência editorial das redacções em relação aos donos dos jornais está a destruir a sociedade.

Esta semana há um bom artigo na Jacobin [en], escrito por um português, sobre as eleições portuguesas e a ascenção daquilo a que chamam extrema-direita. Há outro também escrito por uma portuguesa no The Guardian [en]. Contam para a exportação, mas levam para fora o mesmo estilo de jornalismo e visão do que se escreve cá. Mesmo que se digam independentes ou alternativos, estão formatados. A minha visão e abordagem é um pouco diferente destas e é isso que está no artigo que escrevi esta semana para o jornal alemão TAZ [de]. A grande clivagem da sociedade não é entre esquerda e direita, mas sim entre elites e não elites e quem funciona como contrapeso são os desgraçados que não têm consciência de classe e da sua condição, pensam como ou querem ser elites e votam neles, lêem os jornais deles, comem nos restaurantes deles, prejudicando-se a si próprios e aos seus semelhantes.

Sou fiel aos meus princípios e nunca na minha vida escreveria para um jornal ou revista que, de um modo ou de outro, normalize coisas que têm de ser combatidas e sobretudo que faça dinheiro à custa de leitores incautos, enquanto os engana. É uma coisa de elites, para elites. Há um artigo na The Intercept [en] que funciona o panorama mediático internacional. Cá é igual, a uma escala menor.

Quando há cerca de um mês, o Expresso sofreu um ataque informático, não foi para impedir a liberdade de informação, mas por outros motivos. Sem Expresso, sem Público, sem Observador, sem DN… não se perderia grande coisa. Não sou a favor de crimes informáticos, obviamente, mas tenho um certo fascínio pelos anti-heróis que se movem neste sub-mundo. Esta semana descobri a história da Claire Evans, uma hacker desaparecida, no The Verge [en]. O Grafismo também é muito bom.

Enquanto aqui estamos na nossa segura Europa, em África, multiplicam-se os golpes de Estado e ninguém quer saber. O individualismo não deixa espaço para o internacionalismo e há pouco quem questione. Para saber o que se passa, tenho de desenferrujar o meu francês para ler o artigo do Atlantico [fr] que questiona porque é que há tantos golpes de estado em África.

Para fechar esta Polémica, talvez a com mais idiomas de sempre, deixo um artigo da Crónica Global [es] sobre o cinema espanhol durante a Guerra Civil, porque às vezes é melhor ler sobre cinema do que ficar parado em frente ao ecrã a ver filmes. Excepto se for o Kilas, O Mau Da Fita, porque está ali tudo o que é Portugal há mais de 800 anos e a difícil arte de ser português e gostar. No fundo, não se produz grande coisa, anda-se a fingir e o importante é parecer bem na fotografia. Se necessário for, coloca-se uma placa à porta com o nome a e as palavras IMPORT/EXPORT em caixa alta.

Há poucas introduções de filme que sei de cor, mas esta do Kilas é uma delas e é a melhor:

“Vivíamos do ar. Do ar, dizia a madrinha, enfurecida com o nosso modo de viver entre o café do bairro, a batota e os cabarets vazios das noitadas lisboetas. Da madrugada! Onde se traficava o nosso pequeno contrabando: tabacos, transístores, antenas, umas miúdas lançadas à vida, postas a render, é claro, e a quem púnhamos nomes de guerra em vez de números: era a Palito LaReine, a Rosa Enfeitada, a Mimi Bocas-Fora, a Lili Bóbó que agora por acaso até é uma senhora…”.

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