O resumo da semana poderia ser só: o Balsemão não gosta de gastar o dinheirito em informática, acha que um blog é um jornal e fodeu-se. Os gajos do jornaleco do Belmiro acham que os jornalistas são colegas e não camaradas e, por isso, ninguém compra aquilo.
Pouco me importa as queixinhas e o apoio. Já estamos no segundo ano da terceira década do século XXI e a maior parte da malta ainda trata os computadores e a informática como se fossem uma novidade. Não são. Se acham que são e percebem pouco ou nada de informática são analfabetos, apesar de gostarem de ser tratados por doutores.
Se um jornal ou uma empresa de media com centenas de empregados, demora mais de um par de horas a pôr um novo website no ar no mesmo domínio, então (independentemente do que foi ao ar), para além de analfabetos, são atrasados. Se demoram dias, não sei muito bem o que lhes chamar.
Não há desculpas. Um trabalho não é um ofício. Quem domina um ofício tem de saber o máximo sobre ele, incluindo saber o motivo porque pisca o cursor do processador de texto. Se não sabem, aprendem, a Inverse [en], explica. Jornalistas não são colegas e desleixo não é ataque informático.
Pessoalmente, fico triste pelo “jornalismo” português, salvo algumas raras excepções, ser um entulho, feito por entulhos, mas também fico feliz porque isso me leva para outros lados e evito perder tempo. A The Atlantic [en], por exemplo, está preocupada com a desintegração espiritual e não só do Reino Unido. Leio aquilo e isso leva-me a ir ler novamente o “Causas da decadência dos povos peninsulares” do Antero de Quental e perceber porque é que tanta gente perde tempo a ver debates que não interessam a ninguém. Os ricos votam nos partidos dos ricos e os pobres votam na CDU. É o que é.
Não é preciso ser doutor, engenheiro ou ter um curso de História para se ser um bom político, bem pelo contrário. Infelizmente, a maior parte das pessoas acha que sim. E isto acontece porque não questionam, não falam, nem confrontam esta gente e acham que gente sem ofício, mas com um título é mais capaz de decidir os destinos de um país, de um povo ou seja o que for. Não é. Não há que ter vergonha de se militar num partido de gente honesta sem qualquer ambição individual. Se o reconhecimento individual acontecer, não será pela política, mas pelo ofício. Cá houve o Nobel do Saramago, por exemplo, e no Chile o de Neruda. A La Tercera [es], publicou um artigo com algumas revelações do comité Nobel sobre os questionamentos que surgiram na altura acerca da atribuição ou não do prémio, sobretudo devido à militância comunista de Neruda.
Não importa o que aí vem, o que importa será sempre o saber fazer, independentemente da ferramenta que se usa. Não adianta nada ter uma boa faca se não se sabe cozinhar, ter agulha e linha, se não se sabe costurar, ter acesso a uma qualquer tecnologia, mas ser burro de mais para o usar para ganhar tempo e não para perder. É provável que acabem todos com um sensor na cabeça, como prevê o El País [es], mas é pouco provável que aprendam a fazer alguma coisa com isso.
Este ano começa com mais uma grande facada no jornalismo e não tem nada a ver com a cagada dos desleixados do Expresso. A Longform [en], a plataforma que, há mais de dez anos, partilhava artigos longos, decidiu parar de o fazer, deixando milhões de leitores orfãos à mercê de coisas curtas e desinteressantes. Pode ser que venham cá parar.