Tive um professor no liceu que dizia que por sermos alunos de Humanidades tínhamos a obrigação de ser mais inteligentes do que os outros, independentemente das avaliações e das notas finais. Custava-me a crer naquilo, mas fui percebendo o que ele queria dizer. Por termos tido a hipótese de ler livros bons e livros de merda, por termos de passar horas a ouvir alguém a falar-nos da História que alguém inventou, por termos de levar com filósofos chatos e aprender a língua de outros povos, não nos tornámos mais inteligentes do que ninguém, mas aprendemos a interpretar e a questionar tudo, e isso é uma grande vantagem.
Quem não tem nada para dizer é quem mais necessidade tem de comunicar e isso é cada vez mais notório quando olhamos para redes sociopatas cheias de entulho e um crescente número de programas de televisão que multiplicam comentadores especialistas em coisa nenhuma que se repetem uns aos outros.
O comentário político domina, relegando mesmo para segundo plano o futebol dos milionários. Este tipo de programas tem como objectivo principal impor uma visão única da sociedade. Mesmo quando se dividem em esquerda e direita, a visão é a mesma: a de uma sociedade apática, amena e higienizada, onde pouco ou nada se questiona.
Essa visão e esse pensamento são depois reproduzidos pelos rebanhos que passam a vida nas pastagens das redes sociais. Os poucos que questionam são ridicularizados ou apelidados de estúpidos. Mesmo sem censura, continuam todos caladinhos que nem uns ratos, sem qualquer interesse em fazerem-se ouvir, deixando para outros o papel de falar por eles, tal como deixam para os políticos o papel de os representar.
Não é preciso ser político profissional, nem tão pouco militante de um partido ou activista (seja lá o que isso for) para se ter uma participação política activa através das palavras e da linguagem. Não é na televisão, nem no Parlamento que se faz política. A política faz-se em todo o lado, seja na camioneta ou na cantina, e não exige qualquer preparação ou formação específica. A História está cheia de exemplos de gente apaixonada pela sua causa que se fez ouvir e que conseguiu alterar o que a incomodava.
Chegou-se a um ponto de desencantamento tal que não há quem se erga em nome próprio ou de um colectivo, deixando tudo nas mãos de um qualquer representante arrivista, sem nada para dizer, que investe o que tem e que não tem em esquemas comunicacionais e de propaganda, conseguindo mesmo colocar ao seu serviço meios que à partida deveriam ser multidireccionais a disparar apenas num sentido.
Estes papagaios transformados em sábios apropriaram-se da comunicação como se ela fosse o privilégio de apenas alguns e que todos os outros devem ouvir e calar. Poderia até perceber o fenómeno se estivéssemos perante grandes mestres do discurso, mas não, estamos apenas perante gente que não se cala, mesmo quando não tem nada para dizer.
A conversa de chacha substituiu o discurso político e o fluxo constante de conversas ocas em torno de nada ou de assuntos repetidos até à exaustão acabou com a discussão. A política transformou-se em actividade pastoril e os rebanhos lá vão seguindo em silêncio, alternando entre um e outro pastor, sem perceberem a regra básica: quem não tem nada para dizer, é quem tem mais necessidade de comunicar.