O Almirante das picas anda armado em garganeiro a arrepiar caminho para se candidatar a Presidente da República. Os patetas das “notícias” vão na cantiga e não deixam passar um oportunidade para lhe darem palco. O mais recente exemplo é a descompostura aos Sargentos e Praças da Marinha que as televisões fizeram questão de mostrar.
Em momento algum tentaram falar com os visados a quem chamam desobedientes. Parciais como sempre. Mas é assim que as coisas são. Também eu sou parcial e, neste caso, havendo pelo menos um Sargento envolvido, não é difícil tomar partido. Mais vale um Sargento desobediente do que dez Almirantes oportunistas. Sim, porque aquilo que jurámos foi defender a Pátria. A Pátria toda, sobretudo aquela que ninguém quer, a não lucrativa, a não poderosa. Não jurámos nunca defender Almirantes, Capitães, nem tão pouco Aspirantes. E defendê-la, é também impedir que estes mandaretes façam aquilo que lhes apetece. O que esta rapaziada fez foi precisamente aquilo que jurou fazer: defender a sua Pátria, mostrando que há partes dela que estão podres. Neste caso foi um navio de guerra, mas podia ser uma panela no Rancho Geral do Regimento de Manutenção ou uma mangueira furada na Escola Prática de Serviços.
Defender a Pátria é ficar cá, não arredar pé, e chatear o mais possível esta gente que acha que é dona dela, mesmo que as condições sejam difíceis e que as nossas atitudes nos tragam mais sarilhos que louvores, mas já sabemos que é assim.
Deixar a Pátria, mesmo que seja em busca de uma vida melhor, é suicídio com diz Theodor Kallifatides num artigo do El País [es]. À medida que envelhecemos é que vamos descobrindo quem somos e nos tornamos mais puros. Por isso digo que não acredito numa revolução feita por jovens. A Revolução será feita por velhos.
Este fim-de-semana houve um velho que deu o badagaio: o Nabeiro dos cafés. Encheu-se tUdo de elogios ao grande homem e às suas virtudes, mas será que não tinham defeitos? É que me interessam sempre mais os defeitos do que as virtudes. Era o rei do café em Portugal. Tudo bem, grande coisa, mas não era o rei do café em Espanha, por exemplo. Os reis do café em Espanha são vietnamitas, li no Vietnam Plus [es]. Então, se não conseguiu ganhar aos vietnamitas que vem lá de tão longe, naquilo em que se diz tão bom, estando mesmo ali ao lado, então se calhar só teve sucesso porque era o patrão. Se fosse empregado, se fosse o responsável comercial pelo mercado espanhol, se calhar tinha ido ao ar antes de chagar a velho.
É fácil ser-se um grande humanista e um bom samaritano quando se tem dinheiro, porque quando somos pobres não podemos fazer grande coisa pelos outros, porque estamos demasiado ocupados a fazer por nós e, não, isso não é egoísmo, é condição.
Se querem louvar um bom samaritano, louvem o fundador dos gelados Ben & Jerry’s que gasta o dinheiro a apor-se contra a guerra e contra o armamento da Ucrânia como se lê no Yahoo News [en]. É uma grande diferença entre este samaritano e os nossos que estão metidos em esquemas até às orelhas. Um gajo que permite o envio de armamento português para uma guerra que não é nossa, ao mesmo tempo que condena os seus militares por um acto patriótico, não merece o cargo que tem, nem tão pouco merece ser português. Noutros tempos, teria sido atirado ao mar para fazer companhia à peixarada. Com sorte, seria engolido por uma destas baleias gigantes de que fala a Scientific American [en].
É sarilhos que procuramos, porque sabemos que estamos certos e, daqui a 20 anos, alguém estará a escrever um artigo como este do El Diario [es] a desmascarar os erros dos jornalistas sobre esta guerra na Ucrânia.