Quando me perguntam onde gostaria de viver, qual o meu destino de sonho, etc, etc, respondo sempre: Portugal. Por vários motivos, mas principalmente porque isto não é a Europa, nem tão pouco um país desenvolvido, com câmaras e tecnologia a controlar tudo. Por isso, preocupa-me um bocado que a bófia passe a andar com câmaras ao peito. Não que seja um criminoso, mas não me apetece muito ir preso porque chamei bófia a um bófia, ou mariconço, ou barbaças, ou algo do género.
Pelo que sei e leio, estas coisas da vigilância não costumam acabar bem. Um bom exemplo disso é aquilo em que Singapura se tornou. Há um bom artigo sobre isso na Rest of World [en].
As coisas nem começam mal, a intenção é boa: a protecção. E nem sequer foi um branco que inventou a videovigilância para se proteger de ataques de pretos, que é sempre quem se culpa em primeiro lugar. Os pretos são maus, os ciganos são maus, os brancos são sempre bons. Se forem brancos dos bancos, ainda melhores são. Pois fiquem a saber que foi uma mulher preta que inventou estes sistemas de segurança das casas, mas as coisas desvirtuam-se e arranja-se logo maneira de as pôr ao serviço do poder. A história está na Wired [en].
Nem sempre as distopias têm que ver ou estão ligadas à vigilância. O urbanismo e a habitação, ou a falta dela, são também problemáticos. Há já alguns sítios no mundo que podem ser um exemplo do que, eventualmente, estará para vir. Há algo para ler sobre isto na Places Journal [en].
A base de tudo e o ouro do futuro são os dados recolhidos, de forma dissimulada ou clara, como fazem a Netflix ou a Amazon. Por isso, é importante saber como tudo funciona. A The Verge [en] analisa os bastidores da tecnologia da Netflix. Aquilo que não está à vista. Mas melhor que artigos, é mesmo o Observatório dos Algoritmos com Impacto Social, desenvolvido pela Eticas [en].
Por tudo isto, é sermos nós a determinar os ritmos e não os algoritmos. Acelerar mais do que eles ou travar de repente e mudar de direcção.